A arte de fazer ouvir

A expectativa do público que vai a um espetáculo teatral não se limita apenas ao quanto a peça é boa.

Os espectadores também desejam ouvir tudo aquilo que acontece no palco. Mas como fazer para que o som chegue a todos os presentes? Como fazer para que os instrumentos sejam ouvidos? E o que fazer para que o áudio saia de forma natural? Para resolver todas estas importantes questões, o ideal é recorrer ao designer de som.
Este tipo de profissional aparece como solucionador de problemas de áudio. Trabalha para que todo o som emitido durante um espetáculo seja claro e chegue à plateia, desde a primeira fileira até a última, da mesma forma, no mesmo tom.
“O designer de som é fundamental para uma peça de teatro. Todos têm que escutar o som emitido, em todos os ambientes. Deve-se ter um projeto de sonorização bem feito e, para que seja tudo colocado da maneira correta, deve-se procurar um profissional como o designer”, disse Marcelo Claret, designer desde os anos 1990 e professor, diretor e um dos fundadores do IAV (Instituto de Áudio e Vídeo).

Claret destaca a importância do áudio em um espetáculo. “A audição é o único sentido que nunca descansa, nunca ‘desliga’. Praticamente é o único que envolve a pessoa em 360°, de todos os lados, o tempo inteiro. É um sentido complementar muito importante. E o público quer ouvir tudo. A pessoa que está na última fileira quer ouvir bem. E, além disso, a plateia quer ouvir o som saindo da boca do ator, do piano que é tocado, não de uma caixa de som que está do lado dela. Isso quebra toda a magia da peça”, explica o designer.

Por toda essa necessidade que as artes cênicas têm com relação ao áudio, Claret acredita que a profissão é pouco valorizada. “É pouco explorada. Sempre foi. Mas hoje em dia, há uma conscientização de que o som ajuda muito. Mas mesmo assim, apenas musicais contratam designers, e nem todos”, reclama. “Ainda não se chegou à conclusão de que quem ganha com isso é o público, mas essa ideia de sonorização perfeita não é uma tradição no Brasil”.

Por causa da pouca procura por designers de som, Claret trabalha apenas com dois diretores. “Eu, por exemplo, sempre trabalho com o Cláudio Botelho e o Charles Möeller. Eles sentiram falta de um profissional de som para as suas peças e eu precisava de diretores que entendessem a importância do designer. Foi o casamento perfeito. Hoje em dia, faço todas as peças deles”.

Sobre o trabalho técnico do profissional, Claret é enfático: “É muito difícil trabalhar no Brasil. Os teatros do País não estão se modernizando, apenas alguns deles, como o Teatro Alfa, seguiram os avanços da tecnologia. Os teatros não estão preparados tecnicamente para sonorização moderna. Existe uma cultura de se pendurar refletores de luz, mas e as caixas de som?”, critica o diretor. “Além disso, há outras coisas que atrapalham o serviço. Por exemplo, o designer de som precisa, essencialmente, da planta do teatro, para saber onde colocar as caixas de som, se pode pendurar no teto, etc. Mas o teatro não possui essa planta ou não quer fornecê-la. É difícil explicar para o dono do teatro o que se quer fazer”.

O designer de som precisa de um certo tempo para estudar a peça, as exigências, o teatro e os equipamentos a serem utilizados. “Leva-se entre 15 e 30 dias para se montar um esquema de sonorização para uma peça. Por isso que o designer deve ser chamado com antecedência”, explica Claret. “Tudo deve começar com: qual vai ser o espetáculo? Em qual teatro? Qual a formação da orquestra? As respostas para essas perguntas são fundamentais para o designer desenvolver todo o projeto”.

Claret começou a trabalhar como designer no Brasil nos anos 90, quando foi chamado para solucionar um problema. “Era um musical que iria estrear em dez dias e não tinha som. Fui chamado às pressas para resolver tudo. E deu certo. Foi um pouco complicado, mas tudo andou tranquilamente”.

Sobre a formação de designer de som, Claret explica que “não há cursos no Brasil. Se quiser se tornar um profissional desta categoria, ou estuda no exterior ou aprende por conta própria. O designer precisa saber muito de áudio, de música e da história da arte”, explicou, “No Brasil, são poucos os que têm essa qualificação. Somos uns três, no máximo. Mas nos Estados Unidos, há um mercado muito forte. O problema é que o Brasil não tem essa cultura, mas deveria ter”.


Instituto do Áudio e Vídeo

Marcelo Claret é, além de designer de som, o fundador e diretor do IAV – Instituto do Áudio e Vídeo. O IAV é a única escola especializada em áudio do Brasil. Conta com curso completo e com infraestrutura ideal para alunos aprenderem na prática.

O instituto oferece, primeiramente, um curso de 300 horas para noções de áudio. Em seguida, o aluno pode escolher uma das nove especializações possíveis: Áudio e Acústica, Pro Tools, Mesas Digitais, Efeitos, Sonorização, Gravação, Logic Pro, Linguagem Musical e Música Eletrônica. Em breve, o IAV ainda contará com os cursos de Produção Musical (todos os estilos) e Especialização em Acústica.

“Nós damos aula para cerca de 300 alunos por ano. Uma média de sete por ano recebem o certificado”, afirma Claret. “Leva-se de dois a três anos para formar um profissional de fato. É um curso longo, de 1.500 horas, para que o profissional saia daqui com bastante conhecimento. Nós exigimos muito”.

A escola existe há aproximadamente 15 anos e conta com três casas que, juntas, ocupam um espaço de 1.400 m². “Temos cinco estúdios, um auditório para cem pessoas, duas salas de informática, dois laboratórios de áudio com todo tipo de equipamento analógico e digital e todas as salas têm tratamento acústico”, explica o diretor. “Nós privilegiamos muito a prática individual do aluno”.

Para começar um curso, não há pré-requisitos exigentes. Basta ser maior de 16 anos, cursar ou ter completado o segundo grau escolar e, segundo Claret, “ter bastante disposição e vontade de aprender e estudar”.
Para mais informações sobre o IAV, acesse o site: www.iav.com.br

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