“As Brasas”, do escritor húngaro Sándor Márai, ganha primeira adaptação brasileira para o teatro

Foto: de Leo Aversa

Herson Capri e Genézio de Barros levam para o palco uma história de amizade, paixão e honra entre dois amigos que não se veem há 41 anos

Consagrada obra do escritor húngaro Sándor Márai (1900-1989), “As Brasas” ganha sua primeira adaptação para os palcos brasileiros em uma montagem que marca a estreia de Duca Rachid – autora conhecida por diversos sucessos na televisão brasileira – na dramaturgia teatral. A ideia de adaptar o romance surgiu há quase dez anos, quando Duca e o também novelista e dramaturgo Júlio Fischer estavam trabalhando juntos e leram o livro. Escrita em parceria pela dupla com o diretor da montagem, Pedro Brício, “As Brasas” estreia em 29 de setembro, no SESC Santana. O ator e empreendedor cultural Felipe Lima responde pela idealização do projeto, junto com a autora, além da produção ao lado da Tema Eventos.

Em seu primeiro trabalho no teatro, Duca Rachid enfrentou um grande desafio na adaptação de um prestigiado romance. “Quando li, de cara, pensei que daria uma peça incrível. O trabalho foi difícil porque o livro tem várias camadas. É um jeito de eu me aprofundar nessa linguagem, que exige outro tipo de imaginação. Quando você escreve para TV e para cinema, tem algo mais naturalista e imagético. Para o teatro, é muito mais abstrato”, diz.

Herson Capri e Genézio de Barros vivem, respectivamente, Henrik e Konrad, protagonistas de uma história visceral de amor e amizade, marcada pelo rancor e o ressentimento. Ainda meninos, eles se conheceram na escola militar, tornaram-se amigos inseparáveis e, ao longo dos anos, partilharam descobertas e experiências da infância, juventude e vida adulta. Eles não se veem há 41 anos, desde o dia em que Konrad desapareceu após uma caçada na floresta nos arredores do castelo de Henrik, em 1899, na Hungria. Entre os dois, há um segredo que ronda o dia da caçada e as lembranças de Kriztina – mulher de Henrik e amiga de infância de Konrad. Após quatro décadas, Henrik, agora general, recebe uma carta do amigo informando estar de volta à cidade, levando-o a se preparar para esse tão aguardado confronto final.

“Acho que o que mais me impressionou no livro foi a relação entre esses dois amigos. É tão profunda, uma amizade tão forte que, como acontece às vezes na vida, se estabelece uma relação de poder. Existe uma tensão entre os dois que acaba sendo projetada naquela mulher (Kriztina, mulher do Henrik e amiga de Konrad). Eles a usam para projetar aquele amor que sentem um pelo outro e não conseguem realizar. Existe essa tensão erótica”, conta Duca.

Fortemente presente no romance, a música foi transportada para a cena através da trilha original criada por Marcelo Alonso Neves. “Como, no livro, a música aparece relacionada aos personagens femininos, a violoncelista Nana Carneiro da Cunha vai executar a trilha ao vivo, no palco, e também dizer as falas femininas”, conta Pedro Brício. “É um livro sobre afetividade, memória e decadência. Um encontro muito íntimo entre dois amigos durante a II Guerra Mundial. Isso é muito interessante, esse contraponto entre o momento histórico, o cotidiano e as relações afetivas. É uma constatação de uma certa tristeza e uma decadência dessa dureza masculina”, analisa o diretor.

Idealizador da montagem, Felipe Lima já conhecia a obra de Márai quando foi convidado por Duca para participar do projeto e ficou encantado com a ideia de transpor para os palcos a história de Henrik e Konrad. “É uma história que fala de algo muito forte na minha vida: a relação de amor e de amizade. Por isso, esse livro me toca profundamente”.

Sándor Márai (1900-1989)
Nasceu em Kassa, uma pequena cidade húngara que hoje pertence à Eslováquia. Foi escritor, poeta e jornalista. É autor de 46 livros, na maioria romances, que tiveram enorme sucesso na Hungria entre as duas guerras mundiais. Inconformado com o regime comunista de seu país, Márai exilou-se em 1948. Morou na Suíça, na Itália e na França. Em 1979, fixou-se na Califórnia, nos Estados Unidos, onde se suicidou com um tiro de revólver, aos 89 anos, às vésperas do fim do comunismo europeu. No Brasil, seus livros foram lançados pela Companhia das Letras. “As Brasas” foi o primeiro título publicado no país.

Duca Rachid
Vencedora do Emmy Internacional de Melhor Telenovela por “Joia Rara”, em 2014, Duca Rachid é autora de diversos sucessos da televisão brasileira, como “O Profeta”, “Cama de Gato”, “Cordel Encantado” (todos em parceria com Telma Guedes) e consultora de texto da minissérie “Ligações Perigosas”, de Manuela Dias, produções da Rede Globo. Duca começou a carreira em Portugal com a novela “A Banqueira do Povo”, escrita com Patrícia Melo e Maurício Arruda, dirigida por Walter Avancini e exibida pela Rádio e Televisão Portuguesa, em 1993.

Júlio Fischer
Coautor de “Sol Nascente”, telenovela da TV Globo, escrita em parceria com Walter Negrão e Suzana Pires, Júlio Fischer também é dramaturgo consagrado, autor de “Canção de Assis”, vencedor de cinco importantes prêmios teatrais, de “Personalíssima”, musical sobre a cantora Isaurinha Garcia, e de “Emilinha e Marlene – As Rainhas do Rádio”, escrita em parceria com Thereza Falcão. Pós-graduado em História da Arte pela USP, o projeto “As Brasas” é mais uma parceria com Duca Rachid. A dupla já trabalhou junta na adaptação para a TV de “Sítio do Picapau Amarelo” e nas novelas “O Profeta” e “Cama de Gato”, da Rede Globo.

Pedro Brício
Como ator, diretor e dramaturgo participou de mais de uma dezena de projetos ao longo de 25 anos de carreira. Estudou na Universidade Federal Fluminense (Cinema) e Mestrado em Teatro (Uni-Rio). Cursou a Desmond Jones School of Mime (Londres), a Scuola Internazionale dell'Attore Comico (Itália) e École Philippe Gaulier (Londres). Escreveu as peças “A Incrível Confeitaria do Sr. Pellica”, “Breu”, “Salve, Musical”, “Trabalhos de Amor Quase Perdidos”, “Cine-Limite Teatro”, entre outras. Recebeu alguns dos principais prêmios do país pelo seu trabalho, como o Shell, Questão de Crítica, Contigo e APCA. Como diretor encenou textos de Samuel Beckett, Edward Albee, Rafael Spregelburd, Patricia Melo e Hilda Hilst

Herson Capri
Começou a fazer teatro no Colégio Estadual do Paraná, em Curitiba. Mais tarde, já morando em São Paulo e cursando a Faculdade de Economia na Universidade de São Paulo (USP), passou a estudar Teatro, na Pontifícia Universidade Católica (PUC). Sua estreia na TV aconteceu na novela “A Vila do Arco”, adaptação de “O Alienista”, de Machado de Assis, na TV Tupi. Seguiram-se outras tramas e, depois de “Os Imigrantes”, na Band, foi convidado para fazer “Elas Por Elas”, de Cassiano Gabus Mendes, em 1982, na Globo. Herson Capri participou de dezenas de espetáculos, como o musical “A Noviça Rebelde” (2008), com direção de Charles Möeller e adaptação de Claudio Botelho, e “Conversando com Mamãe” (2010), contracenando com Beatriz Segall e com direção de Susana Garcia. Como diretor de teatro, fez a remontagem de “Querida Mamãe” (2012), de Maria Adelaide Amaral, ao lado de Susana Garcia. Fez recentemente a novela “Sangue Bom”, como Plínio Campana, na TV Globo.

Genézio de Barros
Na novela “A Favorita” (2008), Genézio de Barros se destacou para o grande público ao viver Pedro, pai da vilã Flora (Patrícia Pillar). Compôs o personagem de 70 anos de forma convincente, apesar de ter pouco mais de 50. Antes de toda a visibilidade conquistada no horário nobre da Globo, ele havia participado de das produções “Mad Maria”, “Bangue Bangue” e “O Profeta”. Na Band, atuou em “O Meu Pé de Laranja Lima” e participou de “Amor e Ódio”, no SBT. A formação de ator desse paulista de Taquatiringa, que mora em São Paulo há 30 anos, vem do teatro. Desde sua formatura pela Escola de Artes Dramáticas (EAD-USP), contabiliza mais de 40 peças. Entre seus últimos espetáculos, estão “Longa Jornada De Um Dia Noite Adentro”, de Eugene O.Neill; “Ianov”, de Tchekov, montagem do Grupo Tapa, e “Inimigos de Classe”, de Nigel Willians, direção de Márcio Aurélio.

Ficha técnica:

Idealização: Duca Rachid e Felipe Lima
Dramaturgia: Duca Rachid e Julio Fischer
Colaboração de Dramaturgia: Pedro Brício
Direção: Pedro Brício
Diretor assistente: Michel Blois
Elenco: Herson Capri, Genézio de Barros e Nana Carneiro da Cunha (violoncelista)
Cenógrafa: Bia Junqueira
Direção Musical e Música Original: Marcelo Alonso Neves
Figurinista: Marina Franco
Iluminador: Renato Machado
Instrutor de esgrima: Gaspar Filho
Projeto Gráfico: Gabi Rocha
Assessoria de imprensa: Paula Catunda e Catharina Rocha
Fotos: Leo Aversa
Direção de Produção: Amanda Menezes
Coordenação Geral: Maria Angela Menezes
Produção executiva: Carla Mullulo
Produção: Tema Eventos Culturais
Realização: Sevenx Produções Artísticas 

Serviço:

28 de setembro a 4 de novembro. Sexta e sábado, às 21h; domingo, às 18h.
Local: Teatro. Capacidade: 330 lugares. Duração: 70 minutos.
Recomendação etária: a partir de 12 anos. Gênero: drama.
Ingressos: R$ 9,00 (credencial plena), R$ 15,00 (meia), R$30,00 (inteira).
Venda online: 18/09/2018, a partir das 12h. Venda nas unidades: 19/09/2018, a partir das 17h30.
Transporte: Metrô Jardim São Paulo Ayrton Senna- 850m. Metrô Parada Inglesa -1.200m. Terminal de ônibus (metrô Santana) – linha Vl. Nova Galvão (2025-10).
Estacionamento - R$12,00 a primeira hora e R$ 3,00 a hora adicional - desconto para credenciados.
Para informações sobre outras programações ligue 0800-118220 ou acesse o portal sescsp.org.br

Funcionamento da bilheteria do Sesc Santana – de terça a sexta, das 9h às 21h30; aos sábados, das 10h às 21h; e aos domingos, das 10h às 18h45. Aceitam-se cartões de crédito e débito (MasterCard, Diners, Visa, Aura, Cabal, Elo, Hipercard, Maestro, Redeshop e Visa Electron), e cartões de bandeiras Vouchers Cultura (Alelo, Sodexo, VR e Ticket). Os ingressos podem ser adquiridos em todas as unidades do Sesc.

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