A pesquisa de mais de vinte anos da coreógrafa Zélia Monteiro resultou no espetáculo "Por que tenho essa forma?", em cartaz em São Paulo até o dia 30 de agosto. O trabalho é conhecido pela interferência de movimento, música e luz no palco - reunindo artistas de diferentes áreas para discutir temas como corpo, espaço e tempo. O espetáculo está em cartaz no Sesc Consolação, segue para o Cine Olido e depois Centro Cultural São Paulo, ambos no centro da cidade.

Pautado pela improvisação, o elenco segue uma estratégia de criação e de composição cênica que investiga modos de criar e de compor textos coreográficos. A subjetividade está presente nos movimentos que diferenciam o instante - inserido entre o passado e o futuro - e a duração - que se constrói durante o percurso.
Bailarina e professora desde 1977, Zélia Monteiro estudou dança clássica em Milão e trabalhou com nomes como Maria Melô e Klauss Vianna. Foi premiada em 1987 (APCA), 1988 (Lei Sarney) e 1992 (APCA). Em 1993 recebeu a Bolsa Vitae de Artes para pesquisa coreográfica realizada em Paris, onde deu aulas regulares. Em abril de 2006 recebeu o Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna da Funarte, para realização de pesquisa. Em dezembro de 2006 recebeu o Prêmio PAC Circulação, da Secretaria de Estado da Cultura (SP), para tournée de espetáculo e, em 2007, recebeu o Prêmio Fomento à Dança, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

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De férias na Bahia, a baiana Mariana Gomes, única brasileira que compõe o corpo de dança do Ballet Bolshoi na Rússia, conta sua história, fala da saudade e sobre a vontade que tem de compor o corpo de jurados do Festival Ballace. A companhia da qual Mariana faz parte é considerada a mais tradicional do mundo, fundada em 1776, e conhecida mundialmente devido aos rigorosos critérios para a seleção, perfeição e precisão de todos os passos dos seus bailarinos. "É preciso muita coragem e determinação, além de técnica, muito caráter e inteligência", explica Mariana.
Com apenas 21 anos, ela é o exemplo de determinação e superação que inspira a maioria dos dançarinos brasileiros. A sua trajetória na dança foi iniciada aos 7 anos, quando começou a estudar na Escola de Ballet Adalgisa Rolim, na cidade de Lauro de Freitas (BA). Aos 14 anos, ela foi incentivada por sua professora de dança para fazer um teste na Escola de Teatro do Bolshoi, de Joinville, e acabou selecionada entre os 4.700 currículos enviados.
Mariana passou a integrar o corpo de baile e a viajar por todo o Brasil, sempre com medalhas de honra como melhor aluna. Em 2005, nas avaliações anuais, feitas por professores de Moscou, foi selecionada para o estágio remunerado e se mudou para a capital Russa. Mariana conta que teve problemas de adaptação e sofreu discriminação por ser brasileira, mas soube vencer os obstáculos, inclusive, o mais difícil deles: a saudade que sentia da sua família e dos amigos. "Aprendi a conviver com a saudade, e aprendi que tudo é uma questão de costume", conta.
Com uma rotina intensa, ensaios diários, das 8h às 22h30, e intervalos de três horas com folgas somente na segunda-feira, Mariana teve sua grande chance ao substituir uma bailarina russa, 15 minutos antes da estreia do espetáculo Bolt. "Era uma apresentação difícil e nem todo mundo sabia fazer tudo, mas eu sabia, porque sempre estudei tudo. Assim ganhei meu espaço", diz.
A bailarina admite que o caminho até o Bolshoi da Rússia é árduo, e, infelizmente, nem todos que estudam no Bolshoi do Brasil terão a mesma oportunidade. "Infelizmente não é fácil conseguir chegar lá e mostrar suas qualidades, mas, com certeza, a maioria dos bailarinos terá chance em outras companhias do mundo", avalia Mariana.
Ela conta que conhece e já ouviu falar muito do Festival Ballace. Para Mariana, é muito importante saber que, através deste evento, vários baianos são selecionados para o Bolshoi. "Eu ainda não participei, mas, assim que receber um convite, terei o maior prazer em realizar uma apresentação e de ser jurada também".
Mariana finaliza a entrevista deixando para todos os bailarinos brasileiros uma mensagem de incentivo. "Sejam muito mais que bailarinos, muito mais que estagiários, muito mais que contratados, façam a diferença. Usem a inteligência e nunca percam a humildade. Dancem quando estiverem tristes e com saudades, quando estiverem de folga e até mesmo de férias. Dancem pra curar todas as dores, mas que seja sempre com amor", finalizou a bailarina.

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