Clássico de Moliére ilustra atual realidade brasileira

Por Fernando Pratti, São Paulo

O texto do dramaturgo Moliére (Jean-Baptiste Poquelin), escrito e ambientado na França do século 17, nunca se mostrou tão fiel à atual realidade brasileira dos emergentes, promovida nas últimas duas décadas. É o que prova a montagem de “O Burguês Fidalgo” do grupo Parlapatões que está em cartaz desde o dia 3 de agosto, no Espaço Parlapatões, na praça Roosevelt.

Sucesso de público, com casa cheia em todas as sessões, a adaptação do clássico atualiza a crítica à burguesia francesa à ascensão das classes C e D no Brasil de hoje e revela a mesma busca por prestígio social. O chamado “sonho burguês de nobreza” – desejo de uma classe dominada em ocupar o lugar da classe dominante – é retrata pelo sr. Jordain, o burguês do título que, embora seja casado, tenta conquistar o amor de uma nobre para se projetar socialmente. Suas tentativas o expõem ao completo ridículo e revelam o quanto está cercado de interesseiros, que tiram proveito das ilusões que cria sobre si mesmo.

A tradução e adaptação de Adonis Comelato, Hugo Possolo e Rafael Fanganiello mantém o ambiente histórico, quando nobres e burgueses disputavam o domínio da sociedade para, sem fugir do tempo na qual a história é narrada, jogar com nossa realidade atual.

Para o diretor Hugo Possolo, a encenação permite “uma visão sobre um País emergente, que quer ser mais do que consegue. Mais que uma analogia de épocas, os Parlapatões pretendem brincar com as facetas risíveis de um Brasil que vive a fantasia de crescimento, sem resolver sequer seus problemas básicos.” A encenação leva o público às gargalhadas com os improvisos sempre muito precisos de Possolo, que são um show à parte. No palco, os atores demonstram talento no texto, nas apresentações musicais e nas danças.

A visão alegórica da encenação traz nos figurinos de Cássio Brasil como uma síntese do encontro de dois tempos, com trajes de época enfeitados com elementos contemporâneos, como fitas de vídeo e luvas cirúrgicas formando perucas, ou com porcas e parafusos se tornando bordados e enfeites luxuosos. As músicas surgem da mesma forma, unindo clássicos do passado com músicas do presente. Nascido como uma comédia-balé, essa adaptação busca no burlesco sua vertente mais festiva e sensual, com coreografias de Rogério Maia.

O resultado dessa fusão é um espetáculo hilariante, que diverte ao fazer refletir sobre nós mesmos. Imperdível!
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