“Quem desiste, não pode ser feliz”

Douglas de Barros

Do seleto grupo de artistas brasileiros que se tornaram referência no cenário artístico nacional, Maria José Motta de Oliveira, se destaca como uma das poucas artistas negras que atuavam em papéis de destaque na dramaturgia nacional desde que se tornou Xica da Silva, no filme de mesmo nome do diretor Cacá Diegues.

Mas antes mesmo do sucesso nas telonas ou na televisão, Zezé já havia marcado presença no teatro brasileiro na fervilhante década de 1960. A atriz estreou no espetáculo "Roda Viva", de Chico Buarque de Holanda, logo após se formar em teatro no tradicional Tablado, de Maria Clara Machado. Além disso, já gravou oito álbuns musicais e está prestes a lançar mais um.

Mesmo tendo que se dividir em muitas para dar conta de suas atividades profissionais, Zezé também se notabiliza por sua luta pelos direitos dos artistas negros e sua militância frente aos direitos da classe artística no Brasil.
 
Entre gravações, conferências, reuniões e vida familiar, a atriz ocupa ainda, a convite do governador Sérgio Cabral, um cargo na recém-criada Superintendência da Igualdade Racial do Governo do Estado do Rio de Janeiro, em que cuida dos interesses de negros, índios, ciganos e todo tipo de ser humano que se sente discriminado.

Apesar da agenda corrida, a atriz, cantora e até mesmo diretora Zezé Motta conversou com o Jornal de Teatro por telefone em um hotel de Brasília, num dos poucos momentos que a atriz tem de descanso entre um trabalho e outro.

 

 

Divulgação

 

 

Jornal de Teatro - Como foi difícil te encontrar. Afinal, o que você está fazendo em Brasília?
Zezé Motta - Minha vida é muito louca, muito corrida. Vou gravar um comercial amanhã (dia 17 de março), uma campanha incentivando as pessoas a pagarem o IPTU e que vai ao ar a partir de junho. Mas na semana passada estive aqui para participar da abertura de uma conferência sobre igualdade racial. Inclusive, antes de nossa conversa, recebi outra ligação para tratar de assuntos referentes ao meu trabalho na luta pela defesa dos direitos autorais, vou ficar mais um tempo aqui para tratar mais desse assunto. Eu não paro nunca.

JT - Você está em cartaz com alguma peça no momento?
ZM - Em abril vou estrear "7 – O Musical", do Cláudio Botelho e Charles Möeller, com músicas de Ed Motta. Vamos estrear no teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo, com duração de três meses. Faço papel de má em "7". É a primeira vez que faço uma vilã e estou me divertindo muito. O nome dela é Carmem, uma cartomante muito má que, para proteger uma cliente, persegue outra pessoa. Estou adorando.

JT - E fora dos palcos?
ZM - Daqui a dois meses vou começar a gravar "Caras e Bocas" pela Rede Globo, novela de Walcyr Carrasco e direção do Jorge Fernando. Vou entrar na segunda fase da novela, a partir do capítulo 60. Teve um boato sobre minha participação em "Paraíso", mas foi só especulação. Ontem (dia 15) comecei a gravar o novo filme da Xuxa, chamado "O Fantástico Mistério de Feiurinha". As filmagens começam em julho ou agosto, mas nós filmamos porque tínhamos que aproveitar o navio italiano que estava atracado no Rio de Janeiro. No filme, eu faço o papel da Gerusa, que conta a história da Feiurinha. Essa história na verdade é um livro do Pedro Bandeira que faz muito sucesso nas escolas e é muito interessante. O enredo é um encontro de várias princesas de contos infantis e as mostra já casadas com seus príncipes cheias de filhos e tal, um barato. Parece que foi um achado da própria Sasha.

JT - Sua estreia no palco foi em "Roda Viva", um clássico do teatro nacional. Como foi esse início?
ZM - Vim muito pequena para o Rio (Zezé nasceu em Campos, no norte-fluminense), sinto-me carioca. Eu estudava em um colégio na Cruzada São Sebastião, no bairro do Leblon, embora não tivesse direito porque não era moradora de lá, mas na época eu dei um jeitinho. Fiz o ginásio e ganhei uma bolsa para fazer o Tablado porque eu era muito dedicada, passava meus fins de semana estudando e não perdia nenhum passeio ao teatro, ópera ou qualquer outro programa cultural que a escola fazia. Gostava de teatro, mas não tinha pretensão, só depois descobri que queria isso. Quando terminei, a gente apresentou uma peça, o Flávio Santiago veio falar comigo, perguntou se eu queria seguir carreia e me falou do teste para o "Roda Viva". Na semana seguinte fiz o teste e passei. Foi muito bacana. Em um mês já estava ensaiando. Depois de fazer muito teatro começaram a surgir as oportunidades. Primeiro para o cinema e em seguida televisão, quando a Marília Pêra me apresentou para o Bráulio Pereira, que me chamou para fazer a Zezé de Beto Rockfeller.

JT - E a música? Você gravou vários discos, interpretou canções de grandes compositores e costuma dizer que é ‘cantriz’, não é verdade? Que espaço a música tem na sua vida?
ZM - Já gravei oito álbuns e as pessoas sempre me perguntam se eu prefiro cantar ou representar. Eu respondo que me sinto em estado de graça dos dois jeitos. Quando tenho a oportunidade de juntar as duas coisas é perfeito. Canto muitas músicas nesse musical "7". Levo minha experiência de atriz para a música, já que para cantar também é preciso interpretar.

JT - Então ainda pretende lançar outros discos?
ZM - Estou sem gravar há uns seis anos, mas nesse ano de 2009 eu também vou gravar um CD e um DVD. Viu só quanta coisa? Tenho esse projeto que estava na fila da gravadora Biscoito Fino e quando vi que não ia rolar, resolvi mostrar para a Robby Digital e eles gostaram da ideia. Vão lançar no segundo semestre desse ano. O CD vai se chamar "O Samba Mandou Me Chamar" e vai ter muita coisa inédita. Tinha até pensado em fazer releituras, mas como recebi tanto material bom e muita gente boa, acabei me empolgando.

JT - E os compositores? Já conhecidos ou pretende gravar canções de novos artistas?
ZM - Tem Luiz Ayrão, Paulo César Pinheiro, Feital (Paulo César), Altay Veloso, Marquinho PQP, Serginho Procópio, entre outros. Um pessoal de primeira, além de compositores mais novos.

JT - Você também dirige espetáculos, não é verdade?
ZM - Como diretora já tinha experiência com cantores como Jamelão, Leci Brandão e Ana Carolina ainda em Juiz de Fora. Inclusive, dei muita força para ela vir para o Rio. Recentemente, participei da supervisão de uma peça que estreou no porão da (Casa de Cultura) Laura Alvim, "Todo Amor Que Houver Nessa Vida" com Rogério Garcia e Felippo Leandro. Na verdade, eu dei alguns palpites.


JT - Você é conhecida por uma postura combativa e engajada em projetos sociais e na luta por diversas causas.Como surgiu esse lado?
ZM - Foi uma coisa espontânea. Recentemente, fui convidada para fazer parte da Superintendência da Igualdade Racial do Estado do Rio de Janeiro, um trabalho muito amplo e que cuida dos ciganos, índios, quilombolas e da saúde da população negra. Quando fui convidada pelo governador Sérgio Cabral, achei até que era um exagero. Achava que saúde devia ser para todos, o que é verdade. Mas depois me explicaram que existem algumas doenças que são exclusivamente de negros como a Anemia Falciforme, uma doença que causa problemas nos glóbulos vermelhos e pode levar a óbito. Estamos conversando com o ministro (da Saúde) Temporão para realizarmos uma campanha explicativa. Hoje em dia, com o teste do pezinho, já se acusa, mas há pessoas adultas que podem ter e nem sabem.

JT – Neste tempo, você percebeu alguma melhora? Sua luta tem valido a pena?
ZM - Acho que sim. Se ficarmos só reclamando e não arregaçar as mangas não vamos avançar. Tive a iluminação de participar da criação do Cidan (Centro de Informação e Documentação do Artista Negro) e isso ajudou muito. Quando a gente cobrava essa quase invisibilidade na mídia e nas artes, cada um dava uma desculpa. Diziam que os negros eram inseguros, que conheciam poucos artistas de qualidade. Daí surgiu o Cidan, que tem a finalidade de divulgar. Já temos 21 anos e estamos muito felizes por termos feito a coisa certa. Hoje não se faz cinema, teatro ou televisão sem que sejamos consultados. Hoje esse contato se tornou mais fácil porque podemos dizer quem somos e onde estamos.

JT - O que você está achando da atuação da Jandira Feghalli à frente da Secretaria de Cultura do Rio?
ZM - Ainda é muito cedo. A nomeação dela assustou um pouco, mas acho que devagar as coisas vão se ajeitar. A Jandira tem se mostrado disposta a conversar com a classe artística. Vamos torcer para que ela faça um bom trabalho.

JT - E sua vida hoje? É mesmo todo esse corre-corre ou você tem tido mais tempo para você e sua família?
ZM - É muito corrida, mas tenho tempo para mim sim. O segredo é contar com uma boa equipe e ter disciplina. Acordo muito cedo, por isso o meu dia rende muito. Aos sábados faço pilates e, como moro na Lagoa (Rodrigo de Freitas), caminho na orla sempre que posso. Já minha família me visita mais do que eu a ela. Passei o Carnaval com a minha mãe e aos domingos faço uma reunião com minhas seis filhas de coração. A gente conversa, come pipoca e assiste a vários filmes.

JT - Essa onda de paparazzo tem te atrapalhado? Como conviver com isso?
ZM - Não tem me atrapalhado. Não estou em um momento diferente, não sou mais novidade e não desperto a atenção deles.

JT - E a nova geração? Você tem acompanhado os novos talentos? Quem você destaca?
ZM - Tem muita gente jovem pintando e é difícil prever. Tento fugir do óbvio mas tenho acompanhando o amadurecimento da Taís (Araújo), Claudinha Abreu, que já está virando veterana, Wagner Moura e o Lázaro (Ramos).

JT - E aqueles famosos conselhos para quem quer ingressar na carreira, você também tem para oferecer?
ZM - Sempre recebo cartas de jovens me pedindo opinião. O que digo é para ter perseverança e termino as cartas dizendo que não desistam do sonho, pois quem desiste não pode ser feliz.

JT - uma postura combativa e engajada em projetos sociais e na luta por diversas causas.Como surgiu esse lado?
ZM - Foi uma coisa espontânea. Recentemente, fui convidada para fazer parte da Superintendência da Igualdade Racial do Estado do Rio de Janeiro, um trabalho muito amplo e que cuida dos ciganos, índios, quilombolas e da saúde da população negra. Quando fui convidada pelo governador Sérgio Cabral, achei até que era um exagero. Achava que saúde devia ser para todos, o que é verdade. Mas depois me explicaram que existem algumas doenças que são exclusivamente de negros como a Anemia Falciforme, uma doença que causa problemas nos glóbulos vermelhos e pode levar a óbito. Estamos conversando com o ministro (da Saúde) Temporão para realizarmos uma campanha explicativa. Hoje em dia, com o teste do pezinho, já se acusa, mas há pessoas adultas que podem ter e nem sabem.

JT – Neste tempo, você percebeu alguma melhora? Sua luta tem valido a pena?

ZM - Acho que sim. Se ficarmos só reclamando e não arregaçar as mangas não vamos avançar. Tive a iluminação de participar da criação do Cidan (Centro de Informação e Documentação do Artista Negro) e isso ajudou muito. Quando a gente cobrava essa quase invisibilidade na mídia e nas artes, cada um dava uma desculpa. Diziam que os negros eram inseguros, que conheciam poucos artistas de qualidade. Daí surgiu o Cidan, que tem a finalidade de divulgar. Já temos 21 anos e estamos muito felizes por termos feito a coisa certa. Hoje não se faz cinema, teatro ou televisão sem que sejamos consultados. Hoje esse contato se tornou mais fácil porque podemos dizer quem somos e onde estamos.

JT - O que você está achando da atuação da Jandira Feghalli à frente da Secretaria de Cultura do Rio?
ZM - Ainda é muito cedo. A nomeação dela assustou um pouco, mas acho que devagar as coisas vão se ajeitar. A Jandira tem se mostrado disposta a conversar com a classe artística. Vamos torcer para que ela faça um bom trabalho.

JT - E sua vida hoje? É mesmo todo esse corre-corre ou você tem tido mais tempo para você e sua família?
ZM - É muito corrida, mas tenho tempo para mim sim. O segredo é contar com uma boa equipe e ter disciplina. Acordo muito cedo, por isso o meu dia rende muito. Aos sábados faço pilates e, como moro na Lagoa (Rodrigo de Freitas), caminho na orla sempre que posso. Já minha família me visita mais do que eu a ela. Passei o Carnaval com a minha mãe e aos domingos faço uma reunião com minhas seis filhas de coração. A gente conversa, come pipoca e assiste a vários filmes.

JT - Essa onda de paparazzo tem te atrapalhado? Como conviver com isso?
ZM - Não tem me atrapalhado. Não estou em um momento diferente, não sou mais novidade e não desperto a atenção deles.

JT - E a nova geração? Você tem acompanhado os novos talentos? Quem você destaca?
ZM - Tem muita gente jovem pintando e é difícil prever. Tento fugir do óbvio mas tenho acompanhando o amadurecimento da Taís (Araújo), Claudinha Abreu, que já está virando veterana, Wagner Moura e o Lázaro (Ramos).

JT - E aqueles famosos conselhos para quem quer ingressar na carreira, você também tem para oferecer?
ZM - Sempre recebo cartas de jovens me pedindo opinião. O que digo é para ter perseverança e termino as cartas dizendo que não desistam do sonho, pois quem desiste não pode ser feliz.

 

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